Pesquisar este blog

terça-feira, 23 de abril de 2024

Gastronomia e Poesia

Decisão tomada em família:

será servida nos cafés da manhã

a mais bela poesia desta e de outras terras>

Para harmonizar a novidade

infinita de cada manhã

um poeta diferente da estante sairá

para celebrar a refeição matinal

(nem sempre gastronômica)

mas sempre inspirada pela alvura

do novo dia que se inicia

Da-me um pão quentinho

que eu te direi uma de Vinícus de Morais

Um gole de café bem tirado

combina com a poesia de Manoel de Barros

A banana nossa de cada dia pede

a inusitada presença de um Garcia Lorca

cujas metaforas sonoras e solares

adoçam qualquer receita

Para que tudo dialogue 

com Jorge Luis Borges

que trouxe a saborosa mantreiga portenha

que envolve as palavras em versos

como em um tango casto e mágico

Bom dia!

So What

So what?

Tic-tac...

Then, it goes the bomb

The human bomb

While there was few enough space

to all

No space for the blacks

No space for the yellows

So what?

In the meantime, let´s organize

the smooth revolution 

Eating out the old mental maps

Yeah!

Tic-tac...

Then, the jazz will hollow their brains out

So what?

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Brasília 2647

No ano de 2647, o poeta visitou

uma superquadra de Brasília

distante uns 600 anos dos jornais de hoje

(daqueles tempos da mudança climática)

Brasília a que seria o berço de uma nova civlização

como nos disse o italiano Dom Bosco, em 1883

encontrava-se sem rumo e paraíso

em choque entre a distópia e a realidade


O Antropoceno seguia seu passo resoluto

acompanhado da mais avançada tecnologia:

plantas artificiais aprisionam a energia do sol

Impera o céu cinzento no planalto central

Dilapidado o Cerrado por completo

nada sobrou das promessas de anos dourados

quando se duvidava 

que o clima da Terra irá se desestabilizar


O futuro das belas palavras

das ciências e da diplomacia não nasceu

Há disputas ao longe nos cataventos no deserto

que circundam o avião de Niemayer

Vive-se mais nas gaiolas de concreto

do que nos gramados agora de silício

Observo arentes no mesmo apartamento

fatiado em kitnets e janelas


O poeta é tomado da justa verve

de quem teve a beleza roubada:

"Vocês deixaram isso acontecer!"

"Vocês deixaram isso acontecer!"

O planeta agora é completamente humano

cercado de abismos e ambições

Somos enfim a imagem e a semelhança

de nós mesmos e nada mais


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Pensar

esse pensar sedutor

ainda vai nos levar além...

logo ali a lugares tão próximos

quanto distantes de nós 

pensar este açúcar

no ponto de ser colhido

no cruzar das pernas
 
em seu caminhar sensual
 
aquele que o busca

é o buscado

a presa a ser apaixonada

pelo chamado vital

esquarteja-lo é perde-lo

definir-lo está aquém

de todo desentendimento

Amor

o amor te leva através do espelho

nesse buraco de coelho

tua Alice despenca de si mesma

de verde e amarelo

para viver a queda perfeita

o amor está diluido no ar 

sua qualidade é impregnada de nadezas 

não fatie o amor em categorias científicas

É questão de intensidades e densidades

pobre daquele que tiver

olho maior que a barriga

que amor demais dá coceira

amor de menos dá tristeza

sua quantidade deve ser justa, precisa

quem não pode caçar javali

que é amor demais

que vá colher borboletas

pois quando batem as asas 

fazem uma tempestade no japão

É questão de precisão e generosidade

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Ninguém

O ninguém resolveu poetar em mim

Não é fácil como parece

Arremesse palavras na folha branca

Digite uma imagem

que não tem na cabeça de ninguém


Poetar como ninguém

Parece simples mas não é

O ninguém é livre de corpo

história, identidade, parentes

Poetar como ninguém


Poetar para ninguém

é atingir o suprassumo

da mínima palavra

do mínimo som

do átimo do divino


que tudo cria do nada

decompondo-se do quase 

mas passando ao largo 

da boiada e do vulgo

para desfazer ninguém de sentido

sexta-feira, 29 de março de 2024

Meus Irmãos

Meus irmãos ainda me prendem

às memorias da infância feliz

da adolescencia conturbada

naquela década de 80


de reviravoltas, medo e esperança

Meus irmãos não deixam

que eu desista do passado

que dê a ele uma limpeza


com pano e álcool

Meus irmãos estão apavorados

com a vida, sua linha sem volta

ninguem larga a mão de ninguem


Eu larguei as 19

bem antes imaginava-me

membro de uma sociedade secreta

de uma família imaginária


Menino de muitos irmãos

Minha casa era a rua

Minha mãe me chamava de cigano

Meu mestre de capoeira de giramundo


Eu pareço dono de muitas derrotas

tentativas ou infames vitórias 

Sou pleno de falhas necessárias

um destino desconhecido


É preciso errar

ir pelo caminho torto

para encontra-se finalmente

apartado de um mundo errado


Eu fui um adolescente em Brasilia

a calça punk escondia o medo

da rebelião que nunca aconteceu

mesmo letrado recusei-me


ser servidor público

graduado, aposentadoria garantida

Preferi o improviso e o salto

do porvir incerto de São Paulo


Sou interdisciplinar

mas ninguem acredita

Me disseram: você é pluriapto

Não é doença mas é quase


Devo ter defict de atenção

E se for autismo?

Os irmãos pouco me ligam

os amigos da infância sumiram


Não sei o que pensam:

sou pensamentos á deriva

Quando meu pai se foi

o sol bateu com força 


na pele em lágrimas

Quando os irmãos se vão

cresce a responsabilidade

meia volta vou ver


Ser um pouco de cada

desvendo a vida do passado

mirando o futuro

sorrir para todos

quarta-feira, 13 de março de 2024

O Mar

O mar amanheceu coberto de linhas

ondulantes paralelas a praia

Uns chamam de ondas...

São os versos do mar

segunda-feira, 11 de março de 2024

O Sonho dos Gatos (para o gato Bruce Lee)

Somos feitos de sonhos 

imaginários em fila

O sonho novo encontra o antigo 

esquecido no porão das memórias


Diz a ele: "Eu sou ancestral"

Quem poderá duvidar deles?

Mas o sonho dos gatos é ronronar 

na verossimilhança do agora


do que está próximo

Não importa o que seja

uma bolsa

um caixa de sapatos


o lençol esquecido sobre a cama

A consciência plena é o esquecimento 

Se é amor 

será no mais confortável desencontro


Como se tivesse sempre existido

Um Dejavu não acontecido

felino 

eternamente presente 

quinta-feira, 7 de março de 2024

Das transformações

O dia amanheceu revolto
Desce dos céus, a ordem aos mares:
"Revoltem-se"
"Anunciem a transformação"

Que nada nessas águas permaneça em calma
Sacudam todas as certezas
Revelem os mistérios de forma violenta
pois assim nascem os mistérios

Na cidade marítima receiosa
pequenas porções de água escondidas
um poço quase seco
uma pequena piscina escura

um tanque de águas paradas
resistem a mudança
á renovação das emoções
vinagradas de passado

No tanque de Matsuo Basho
o sapo discreto salta
mas não perturba
o silêncio torto das águas

Quando vem chegando a mudança
nem todo mundo tem tempo
de recolher suas águas
Memórias liquidas e blocos de gelo

"Que venha um tsunami para tudo mudar"
Brada aos céus, o novo messias
Mas é da natureza da natureza humana 
a decisão de mudar águas e sentidos

conforme a bússola de dentro
as mudanças da carne e do clima 
dos afetos encarnados em destinos
que germinam no kairus do ser

Atendem a outros fenômenos
que governam os corações
Obedecem outras leis
regidas por outras luas

Gastronomia e Poesia

Decisão tomada em família: será servida nos cafés da manhã a mais bela poesia desta e de outras terras> Para harmonizar a novidade infini...